No dia 19 de abril, o Centro Cultural Belchior foi palco da estreia da videodança “Tearjerker – A INDAGAÇÃO”, uma ousada produção cultural assinada por Bruno DLX, em colaboração com o multiartista Eduardo Africano. Sob a direção de Felipe Mota, a obra mergulha em questões profundas sobre identidade, ancestralidade e a conexão com o passado, refletindo sobre as raízes culturais e a memória coletiva que nos moldam e nos definem.
A performance de Eduardo Africano, peça central desta obra, é uma imersão visceral nas camadas da ancestralidade. Combinando corpo, dança e memórias, sua interpretação nos provoca a refletir sobre a relação entre o presente e o passado, resgatando as tradições que permeiam nossas existências. Para ele, a trama se inicia no centro de sua mente, onde se desenrola um conflito íntimo: a solidão do homem preto em uma cidade que, muitas vezes, não o reconhece. O percurso pelas ruas revela um sentimento de deslocamento, uma ausência de pertencimento. “Percorro a cidade e, em muitos lugares, não me vejo. Mas, ao mesmo tempo, me forço a estar neles, mesmo com esse sentimento. Quando estou em casa, escrevendo uma poesia ou ensaiando um passo de dança, percebo que essa indagação vem de um lugar difícil de definir. Não sei exatamente onde dói, não sei explicar da melhor forma, mas sigo me aprofundando, tentando achar uma cura, mesmo sem saber de onde vem essa dor.” O reconhecimento da própria história se torna um processo de autodescoberta. “Comecei a entender isso quando reconheci minha ancestralidade. O hip-hop foi esse momento de conhecimento. Porque, depois que você vê o racismo, não consegue mais desver.”
Ao longo da trama, um momento de clareza emerge. “O alívio quando o amigo chega e me faz lembrar que, na verdade, já sou o que estou procurando. A solução não está em me tornar outra pessoa, mas em aceitar quem sou.”E essa percepção amplia seu entendimento sobre a solitude e a necessidade de conexão. “É importante saber lidar com a solitude, mas sempre enfrentá-la sozinho não é suficiente. Não estou sozinho na caminhada e preciso de pessoas para compartilhar, trocar experiências e fortalecer cada corre.”
Bruno DLX, produtor executivo da obra, explica a inspiração por trás do projeto: “A videodança nasce do desejo de explorar como a dança pode ser uma ferramenta de reconexão com nossas raízes, nossa história. Ao trabalhar com Eduardo Africano, buscamos traduzir a complexidade da ancestralidade em movimento e imagens, criando um espaço onde o público possa se reconhecer e refletir sobre seu próprio lugar no mundo.”
Com uma estética delicada e melancólica, em tons pasteis que evocam a suavidade das memórias e a complexidade do tempo, “Tearjerker – A INDAGAÇÃO” cria uma atmosfera introspectiva e sensorial. A fotografia, elemento central da narrativa, se entrelaça com a dança de forma única, criando imagens que não apenas contam uma história, mas convidam o público a vivenciá-la emocionalmente, transportando-o para um espaço onde passado e presente se encontram.
Felipe Mota, diretor da videodança, destaca: “Esta obra é uma jornada de reflexão sobre a incessante busca por significado e aprovação. A ancestralidade e a dança se tornam poderosas ferramentas de autoconhecimento e libertação, conduzindo-nos a uma compreensão mais profunda da nossa identidade e do nosso lugar no mundo.” Para ele, “Tearjerker – A INDAGAÇÃO” é uma luta interna universal: uma busca pela autenticidade e evolução, onde a ancestralidade e a dança são elementos cruciais de transformação pessoal.
Ao final da exibição, houve uma roda de conversa com Eduardo Africano, seguido por um momento cultural com uma performance de dança do grupo Sul Clan.