Precarização da segurança psicológica nos ambientes corporativos ainda é comum no Brasil

Mesmo com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrou em vigor em maio deste ano em caráter educativo e adaptativo, o ambiente laboral brasileiro ainda apresenta baixos níveis de segurança psicológica. Durante esse primeiro ano, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realiza fiscalizações orientativas, sem penalidades imediatas, para apoiar as empresas na implementação das novas diretrizes. A partir de maio de 2026, porém, as organizações poderão ser autuadas caso não cumpram as exigências previstas.

A NR-1 é a norma que estabelece as regras gerais de segurança e saúde no trabalho no Brasil, servindo como base para todas as demais normas regulamentadoras. Ela determina o que as empresas precisam fazer para proteger seus colaboradores de diferentes tipos de riscos, como estresse crônico, sobrecarga, assédio moral, clima de medo, insegurança para falar ou contribuir e falta de apoio emocional, temas que, até então, raramente faziam parte das agendas de segurança ocupacional. Com a atualização recente, a NR-1 passou a exigir que todas as organizações implementem o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e elaborem o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), documentos e processos que orientam a identificação, avaliação e controle de riscos capazes de afetar a saúde do trabalhador.

A psicóloga e diretora da Life DH, Fernanda Macedo, destaca que essa mudança normativa impulsiona as organizações a reconhecerem a importância do clima emocional nas equipes. “A segurança psicológica não é um benefício opcional, mas um dos pilares para a sustentabilidade das relações de trabalho. A nova NR-1 induz as empresas a olharem para isso com mais responsabilidade”, afirma.

Dados recentes do Relatório Global da Fearless Organization, divulgados pela CNN, mostram que o Brasil apresenta uma pontuação média de segurança psicológica entre 6,2 e 6,8, abaixo da média global, um indicador que reflete desafios ainda persistentes na cultura corporativa do país.

Segundo a gestora, muitos ambientes profissionais seguem reproduzindo práticas que inibem a expressão de ideias, dúvidas ou fragilidades por parte dos colaboradores. “Ainda há uma cultura de medo, de receio de errar ou de sofrer represálias. Sem enfrentar essas barreiras, os riscos psicossociais se acumulam e geram afastamentos, queda de produtividade e desgaste coletivo”, observa.

Especialistas reforçam que a adequação à NR-1 vai muito além do cumprimento de exigências documentais: demanda mudanças comportamentais, formação de lideranças e mecanismos permanentes de escuta. Para a psicóloga, o avanço depende de empenho contínuo. “Criar segurança psicológica é um processo, não um evento. É preciso construir confiança diariamente e transformar o ambiente em um espaço onde as pessoas se sintam, de fato, protegidas para se expressar.”

Apesar da regulamentação vigente, consultorias e organizações de saúde ocupacional apontam que grande parte das empresas brasileiras ainda se encontra no estágio inicial de implementação, o que evidencia a necessidade de maior conscientização e compromisso na gestão dos riscos psicossociais.

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